quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Julgamento literário


Não me parece certo. Na verdade, me parece bastante errado que esse tipo de coisa aconteça. Não é como pegar um livro, ler a primeira página e julgar o resto. Já fiz isso, e me arrependi mais tarde. Aquele livro ficou preso na minha cabeça por algum tempo. Certo dia, resolvi lê-lo, e olha que incrível! Eu gostei. Não, eu amei o livro. Mas não se pode fazer isso com uma pessoa, você não pode interpretar seus gestos, suas palavras, suas opiniões e achar que já a conhece e então, jogá-la numa prateleira empoeirada. Você tem que cuidar dela, tratá-la bem, folheá-la com atenção e absorver suas palavras uma a uma. E não basta o fazer apenas uma vez. Tem de fazer todos os dias, abri-la, lê-la com atenção, interpretá-la e fechá-la com delicadeza. Mas não a jogue na mesma prateleira empoeirada junto com aqueles livros desgastados, de terror, assassinato e inveja. Prepare uma prateleira especial em seu coração, limpe todos os dias, preserve. Pode também encapar, mas não sufoque demais. Deixe alguns recados bonitos em suas páginas, assim, todas as vezes que você a vir, saberá que um dia, vocês eram amigos, se amaram, e a tratará bem. E ela também, jamais a esquecerá. Não devemos julgar o livro pela capa, nem a capa pelo livro.

Encontro um conto

E vejo um ponto em cada final de frase. Seria desnecessário dizer isso, já que, segundo nossa querida gramática, eles sejam necessários. Mas encontrei este ponto no final da frase da minha vida. Estava atrapalhando meu caminho, não me permitia caminhar com segurança. Sentia que a cada passo eu poderia pisar nele. E se eu pisasse… Bem, se eu pisasse, não sei o que aconteceria. Mas pra que arriscar? Afinal, vai que acontece algo realmente terrível. O que interessa é que ele se atravessava no meu caminho nas horas mais importantes, nas horas cruciais da minha pequena vida. Jamais pisei nele, mas perdi a conta de quantas vezes tropecei nesse bendito.Quase caí diversas vezes, mas me equilibrei nas palavras, nos pontos de interrogação, exclamação e reclamação. Este conto é da minha vida, é necessário saber contá-la, não errar nos acentos, nas orações e nas preposições. As palavras me decifram, dizem quem sou e quem não sou, pra quem quiser ouvir. Mas eu não sei quem sou, quem fui e quem serei. Minha história é escrita sem meu consentimento, ninguém me pergunta o que quero fazer, quem quero ser e pra onde quero ir. Os pontos encerram as frases e me impedem de saber o que escrevem de mim, afinal não posso ultrapassá-los, só conseguiria enxergar minha vida se pisasse em cima deles, mas não tenho coragem, não quero arriscar toda a minha história, toda a minha vida por causa de um ponto. Pois, um dia, quando tudo finalmente se ordenar, as palavras fizerem sentido, finalmente saberei de tudo, e pronto!

Suspiro


A cada palavra dita um tropeço
e outro tombo,
mas estou tentando.
Sorrisos, efusões
e dramas complexos,
então, tudo começou.
Para esquecer cada ferida fechada
Dor.
Para conseguir respirar
Mais dor.
Eu sinto como se estive caindo 
com um suspiro
Como um castelo de cartas
Você pode me ver
Estou lá embaixo
como ar frio
E você pode me erguer ou me deixar
é só querer.
Você apareceu sob o canto de anjos
e sorriu pra mim
Como um conto de fadas
E depois me mostrou como a vida era
e a verdade dos homens
Uma mentira.
Você fechou a ferida
E me anestesiou
Com seu calor
Mas eu caí com um suspiro
Como uma folha no outono
Lá embaixo eu permanecerei
Até você poder me erguer
Ou decidir me deixar.
Mesmo que o Sol ascenda
Em meio a tempestade
Mesmo que um dia eu voe alto
E esqueça.
Eu estarei aqui embaixo
Com um suspiro sobre você
Tão embaixo que você poderá me erguer
Mesmo que não queira
Eu serei como um suspiro, sustentado pelo ar
E feito pra subir
Como um suspiro.


"Poema inspirado na música 'Whisper' de A Fine Frenzy"

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